Fraude Theranos: A saga da bilionária que virou presidiária
Elizabeth Holmes foi a fundadora da Theranos, uma empresa de biotecnologia que prometia revolucionar os exames de sangue.
Elizabeth Holmes era uma das empreendedoras mais admiradas do Vale do Silício, até que sua empresa de biotecnologia, a Theranos, foi desmascarada como uma fraude bilionária.
Nesta terça-feira (30), ela começou a cumprir sua pena de 11 anos de prisão por enganar investidores, médicos e pacientes com sua promessa de revolucionar os diagnósticos de saúde com um dispositivo que nunca funcionou.
Quem é Elizabeth Holmes?
Holmes nasceu em 1984 em Washington, nos Estados Unidos. Ela se interessou pela medicina desde cedo, inspirada pelo seu avô materno, que foi médico e vice-presidente da United States Agency for International Development (USAID).
Ela ingressou na Universidade de Stanford em 2002, mas abandonou os estudos em 2003 para fundar a Theranos, uma startup que pretendia desenvolver um aparelho capaz de realizar centenas de exames de sangue com apenas uma gota.
A ascensão e queda da Theranos
A proposta de Holmes era desenvolver um dispositivo portátil e de fácil utilização, que pudesse ser instalado em farmácias, clínicas e até mesmo residências, proporcionando resultados rápidos e precisos a um custo acessível.
Ela batizou o aparelho de Edison, em homenagem ao renomado inventor Thomas Edison.
Para tornar seu projeto realidade, Holmes conseguiu atrair investidores de renome, como o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, o ex-secretário de Defesa James Mattis e o magnata da mídia Rupert Murdoch.
Além disso, estabeleceu parcerias com grandes empresas, como a Walgreens e a Safeway.
Em 2014, a Theranos chegou a ser avaliada em US$ 9 bilhões, e Holmes foi reconhecida pela revista Forbes como a mulher mais jovem e rica dos Estados Unidos, com um patrimônio estimado em US$ 4,5 bilhões.
No entanto, em 2015, a imagem da Theranos começou a ruir quando uma série de reportagens do jornal The Wall Street Journal revelou que o dispositivo Edison não funcionava conforme anunciado.
De acordo com as investigações, a Theranos utilizava equipamentos convencionais de outras empresas para realizar os exames, resultando em muitos resultados imprecisos ou falsos.
O julgamento e a condenação de Holmes
Em 2018, Elizabeth Holmes e seu ex-sócio e namorado, Ramesh “Sunny” Balwani, foram acusados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos de nove crimes de fraude eletrônica e dois crimes de conspiração para cometer fraude eletrônica.
A acusação afirmava que eles enganaram investidores, médicos e pacientes sobre a capacidade e confiabilidade do dispositivo Edison.
O julgamento de Holmes teve início em Agosto de 2022 e se estendeu por quatro meses.
Durante o processo, ela tentou se defender alegando que suas intenções eram boas e que havia sido manipulada por Balwani, que supostamente a havia abusado emocional e fisicamente.
Além disso, ela revelou que teve um filho pouco antes do início do julgamento e outro desde a sua condenação.
No entanto, os argumentos apresentados por Holmes não convenceram o júri, que a considerou culpada de quatro das onze acusações.
Em Março de 2023, ela foi condenada a 11 anos e três meses de prisão, além de ser obrigada a pagar US$ 452 milhões em restituição às vítimas da fraude.
Embora devesse iniciar o cumprimento de sua pena em Abril de 2023, seus advogados entraram com um recurso de última hora baseado em questões processuais. O recurso foi negado, e Holmes se entregou à polícia nesta terça-feira (30).
As lições do caso Theranos
O caso Theranos é considerado um dos maiores escândalos do Vale do Silício e exemplifica os perigos da cultura do “fake it until you make it” (finja até conseguir).
Essa cultura incentiva os empreendedores a exagerarem ou mentirem sobre seus produtos para atrair investidores e clientes. Levanta questões éticas sobre a responsabilidade da mídia, dos reguladores e dos consumidores na fiscalização das empresas de tecnologia, especialmente aquelas ligadas à área da saúde.
Nesse sentido, especialistas apontam que Holmes se beneficiou da falta de transparência e do escrutínio sobre seu negócio, aproveitando-se de sua habilidade em criar uma imagem carismática e visionária.
Porém, apesar da fraude cometida por Holmes, o caso Theranos também pode inspirar verdadeiros inovadores que buscam soluções para os problemas da sociedade.
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